quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"NÓS E UM GRUPO DE AMIGOS, NUMA PRAIA DE ÁGUA QUENTE"

A pedido do amigo Joaquim António Godinho, cujo pedido ordem é, eis aqui a tardia crônica (cujo tema foi-me ditado por ele!).

Pois lá vamos nós, não eu e um grupo de amigos, mas eu e minha capacidade de extrair sucos de pedra, pois nunca estive com um grupo de amigos numa praia de água quente. Mas, já que pedi e recebi, e como não fujo de desafios, antes tomo-os pelos chifres qual touro bravo, tento aqui não fazer feio diante da maestria do amigo Joaquim... Já diz um ditado que por terras brasileiras ouve-se há tempos: "Devo, não nego, pago quando puder." Mas filha de Mãe Joana que sou, cumpro à risca aquilo em que creio: Um fio do meu bigode vale mais que palavra escrita! Não que eu tenha bigodes, apesar das raízes portuguesas arraigadas. Um dos meus pés lá está, na Ilha da Madeira, de onde a Mãe Joana saiu aos já avançados sete meses de gravidez, comigo a avistar o horizonte pelo olho mágico de seu umbigo na travessia do Atlântico. Aliás, por falar em praias, as da Madeira são pitorescas com seus calhaus, em oposição às praias de areia fina da vizinha Porto Santo.
Praias de água quente temos aos montes pras bandas do nordeste do Brasil, praias de beleza espetacular, mas onde moro as águas já não são assim tão cálidas. As praias do Espírito Santo têm águas límpidas e frias, e aqui, sim, em minhas águas frias cresci entre muitos amigos que, tanto (ou quase) quanto eu, gostavam de nadar mar adentro... Vamos lá, conto-lhes uma que os fará rir... 
Estava eu por volta dos meus 14 ou 15 anos, e sempre que nadava, aventurava-me mar adentro em linha reta, como quisesse dar com os costados n'África. Meus amigos achavam-me imprudente, mas lá um belo dia, um grupo de amigos, havendo assistido ao primeiro filme "Shark", desafiou-me a fazer o mesmo depois que fosse ao cinema.
Pois bem, espevitada que só, fui ao cinema, assisti ao filme, e no dia seguinte, fui ao encontro dos tais! 
_"Meninos, assisti ao filme!" - anunciei, convencida.
_"Há! Duvido que você tenha coragem de nadar pra longe, agora!" - desafiaram-me os mui amigos!
Ai, ai, ai!!!! Façam tudo, mas não duvidem de mim!!! Lá fui eu mar adentro, sozinha, e se antes nadava duzentos metros, dessa vez nadei seiscentos! Parava, olhava para os amigos transformados em formiguinhas na areia da praia, achava que ainda estavam muito perto e investia ainda mais nas braçadas. Quando achei que já estavam bem longe, o suficiente para espantarem-se com a minha ousadia, parei para fazer minhas cambalhotas e boiar ao sabor das ondas... mas eis que caí na besteira de olhar para baixo, para o fundo do mar.
E quando olhei, enchi-me do mais genuíno pavor! Avistei logo abaixo uma sobra enorme, e nem tempo tive para pensar no tubarão que me daria cabo da vida. Arremeti em direção à praia sem parar para olhar novamente, nadei numa rapidez nunca dantes vista nas minhas aulas de natação! Já sem fôlego, perto da praia, achei que podia descansar e olhei para baixo. Lá estava a sombra aterrorizante! Juntei d'um gole, penosamente, as forças que ainda me restavam e nadei ainda mais rápido! Quando já estava a ponto de alcançar a areia por baixo dos pés, arrisquei mais uma olhadinha para a tal sombra... Nunca senti tanta raiva e frustração como quando me dei conta de que a enorme sombra que me perseguia desde o alto-mar era a minha própria esbaforida sombra! Escapei do tubarão, bati meu próprio recorde e fiquei ali bem quietinha esperando recuperar o folego, para que os amigos não percebessem o fiasco. 
Então, lá se foi a minha crônica sobre uma praia de água quente... Nem com a velocidade das braçadas e pernadas logrei aquecê-la!!!!
Beijo, Joaquim!




                                                   ......................................    Tixa, 03/01/2012

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