sexta-feira, 25 de maio de 2012

Confiança, Lealdade, Perdão...

Me disseram que sou muito ingênua, boazinha demais, que preciso mudar...
Depois disseram-me que precisamos conversar...
Sei porque falam assim. 
São pessoas que se preocupam, que me amam, que querem o meu bem!
Mas eu tenho um pedido! Um pedido bobo, um pedido tolo, mas meu pedido!
Já fiz cinquenta anos, estou quase nos cinquenta e um...
Vivi estes anos todos sabendo da maldade humana, mas crendo no lado bom de todo ser. 
E aprendi com Jesus Cristo que perdão se dá não sete, mas setenta vezes sete!
Por isso, por me conhecer há tantos anos, sei que se alguém vier me dizer que alguém que eu amo não é tão leal e fiel como eu sou, que os que prezo falam mal de mim pelas costas, eu sei que vou chorar, vou me magoar, mas, pela minha natureza, vou ouvir as explicações esfarrapadas, as alegações de inverdade, e vou perdoar, vou esquecer, e vou continuar, feliz, amando meus amigos, meus irmãos, meus amores. A dor vai passar, como sempre passou, porque mágoa não é tesouro, não preciso guardar!
Por saber de tudo isso, das minhas reações, da dor que vou sentir, mas que também vou esquecer, quero pedir uma coisa boba... 
Não se deem ao trabalho de me alertar! Não se desgastem com essa espinhosa missão! Porque sei que, apesar dos cinquenta e quase um, não cresci, permaneci criança dentro n'alma, não vou mudar de fé... Tenho fé nos que amo, porque tenho fé no meu amor, sei que no meu amor se pode confiar, e da mesma forma, quero poder confiar no amor que dizem ter por mim. 
De nada vai adiantar eu saber que este ou aquele amigo falou alguma coisa pelas minhas costas que possa me magoar. Porque eu sei da fraqueza humana. Mas também sei que, se Deus mandou Seu único Filho para morrer por nós numa cruz, é porque Ele também, assim como eu, porque confio nEle, sabe que essa doce e cruel raça humana merece uma chance, tem salvação, não é causa perdida. E se meu Deus acredita no homem, quem sou eu pra perder a fé nele??? 
Vou amar sempre, até o fim de meus dias, porque sei que nenhuma mágoa, por maior que seja, vai mudar meu jeito de amar!


                                                                         ....................Tixa, 25/05/2012.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dos sentidos



Cresce em meu peito uma onda de ternura...
Nada faz estabilizar meu coração 
e adentrar a rotina dos que já se conhecem.
Pensar em ti é imperativo e doce!
Este amor não é encontro de afinidades, 
não é troca de carências, 
não é compensação por perdas e danos sofridos...

Este amor tem cunho de magia pura
Desses encontros raros de entrega e doação
De almas que se procuram e se merecem
Que se pertencem, embora sem posse
Nosso amor é poço de liberdade
Onde, livres de incoerências, 
Temos um no outro corações preenchidos...

                        ........................Tixa, 18/05/2012

 bjs,Tixa Falchetto Ilha com palmeira
(viciada em mar, cultura, Amor, café e música)"O Amor de Deus é a luz que nos ilumina."


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fugir ventando!


Às vezes me vejo remexendo em velhas memórias,tão bem guardadas que nem chegam a ser memórias, mas retalhos delas, restos roídos pelas traças do tempo implacável. 
Fico me perguntando se existe remédio para eliminar essas importunas destruidoras da minha história. (E mais, se não estou nova demais para tanto esquecimento, na flor dos meus quase 44.) 
Quero me lembrar de cenas da minha infância, quero registrar momentos que me foram caros, mas não confio tanto assim no que deveria ser a minha memória. Os traços que me lembro nem sempre compõem um desenho completo. Às vezes esboçam situações que nem sempre se inserem num contexto coerente. 
Mesmo assim, quem sabe eu consiga fazer esboços que, num persistente trabalho de patchwork, se tornem uma bela colcha de retalhos para eu deixar para a minha posteridade, até que as verdadeiras traças venham a roer e destruir os meus registros.
Penso nisto porque, quando passo pela 3ª Ponte e olho o meu querido Convento da Penha, sinto uma tremenda saudade do tempo em que eu ficava sentadinha no muro lá de casa, ouvindo o sino badalar as horas, ou as beatas cantando hinos durante as missas, com suas vozes anasaladas de taquara rachada, às quais eu imitava tão fielmente que a mamãe me mandava cantar para suas visitas do chá da tarde... E lá ia eu sala adentro, meus 7 ou 8 anos, a cantar para as tias risonhas (e eu morta de vergonha!!!): "♫♪Võs sõis meu pãstõr, õh, Senhõr...♪♫" 
E quando olho para o outro lado, o lindo e 'preservado' Morro do Moreno, ainda não tão violentado pela especulação imobiliária, me lembro dos passeios maravilhosos que fazia com o Papai e o Tó, meu querido mano Tó, - que saudades tenho de ti, de nós, da nossa linda infância nesta Praia da Costa que hoje está tão fria, violenta e irreconhecível!! Era bem nossa quando no nosso quarteirão só tinha a nossa casa e aquele fabuloso pé de ingá que foi a sede do nosso clubinho! 
Lembro-me especialmente de um passeio exploratório que começou com uma ida à praia. Fomos caminhando em direção à Sereia, mas não nos detivemos por lá. Passamos pelo Clube Libanês, e o Papai resolveu ir conosco ao Morro do Moreno. 
Mas nós éramos pequeninos, e perninhas curtas demoram mais a percorrer certas distâncias, vai daí que quando chegamos ao Moreno, o sol já ia alto, e o chão, como queimava!!! Começamos a nos queixar dos pezinhos ardendo, e o nosso Pai Herói lá foi catar ao mato folhas grandes e cipós para nos proteger as solas dos pés, fazendo-nos os sapatos mais legais que já tivemos! Lembras disso?
E quando fomos explorar o mato lá pelas bandas de Itapoã e Itaparica? Era só mato e areia branca, nenhuma casa, nem mesmo rua. Até que chegamos a uma clareira e vimos aquele cavalo branco pastando, e o Papai nos fez parar em silêncio, esperando atrás da moita, para, de repente, sair numa corrida desabalada, batendo as mãos nas pernas imitando o galope dos cavalos. 
Depois desse episódio, toda vez que ouço ou leio a expressão "fugir ventando", a imagem que me vem à mente é a fuga estrepitosa daquele cavalo apavorado, literalmente "ventando"!


                                                         ..........................................Tixa, 25,26/05/2005

Um híbrido bem-te-vi


Moro num idílico paraíso ilusório no fundo de minhas memórias, que há 
muito já perdeu o pitoresco encanto bucólico dos meus tempos de criança, 
época em que nos dedicamos a usufruir sem ver, para depois de velhos, 
repassar imagens do que não podemos mais usufruir... 
Meu paraíso nada mais tem da Velha e calma Vila onde nasci, a não ser que eu 
me sente na areia da praia, com tapa-olhos e protetores de ouvido, olhando 
para o mar. Mas o mar é sempre mar. Não pode ser asfaltado, ainda não o 
podem invadir os arranha-céus que nos arranham também os olhos e a alma. 
O único refúgio imutável é a estrada velha do Convento da Penha, que, 
tombada, nos derruba da soberba e nos faz tão recém-nascidos diante da 
elegância e nobreza de suas árvores!
Lá, sim, me sinto em casa, como quando subia o morro do Convento pela mata 
com o pai e o mano Tó. (...) Não havia prazer maior do que os nossos passeios 
exploratórios com o pai! 
Quando saíamos do perímetro quase urbano da Praia da Costa e vínhamos 
como bandeirantes para os lados alviverdes de Itapoã (com seus barracos na 
vila dos pescadores) e Itaparica, que só tinha aquele cavalo branco pastando 
e esperando pelo susto, nunca poderíamos imaginar essa invasão 
desenfreada do concreto que quase nos expulsa todos os passarinhos da 
infância! 
Quem hoje vê este emaranhado de prédios, asfalto e estranhos, nem sequer 
consegue crer que o nosso melro veio nos adotar por livre e espontânea 
vontade, descendo as escadas da casa como velho morador, depois de ter 
pousado no terraço, cansado de explorar o mundo sozinho. 
Mesmo assim, espremidos por todos os lados por paredes que se fecham como 
sarcófagos e salas dos tesouros das antigas pirâmides, sufocando cada vez 
mais o nosso oxigênio, quando acordo, ainda ouço bem-te-vis. 
E feliz, abro a janela, olho para a árvore em frente e lhes dou bom dia. 
Só que este ano, algo tem me instigado a curiosidade. 
Tenho ouvido todos os dias um "canto triste d'araponga", sem lograr ver 
arapongas... 
E não é uma voz de araponga adulta, mas de filhotinha, se é que 
araponguinhas bebê falam como os bebês humanos, com vozezinhas 
pequenas... 
Intrigada, resolvi investigar. E, voltando da rua, certo dia, ouvi-o cantar 
novamente, bem na minha árvore de bem-te-vis. 
Parei, esperei pacientemente, até que o danadinho apareceu, num galho mais 
externo da dita cuja, e qual não foi o meu espanto!!! O canto de araponguinha 
vinha de um baita bem-te-vizão albino. 
Acho que o pai dele deve andar sem pio por aí, porque a Dona Bem-te-vi andou 
passeando com o Arapongo da vizinha. 
Ou então, esse sufocante progresso já está degenerando totalmente a natureza 
perfeita com que Deus nos presenteou!




                                      ................................Tixa, 24/07/2005